Alphaville do lado de dentro do muro

Uma representação audiovisual da classe média brasileira vivendo seus condomínios fechados enquanto se afastam da sociedade em uma realidade distópica neofascista…
 
De vez em quando o sistema de recomendação do Youtube funciona e muito bem ao ter me indicado este surpreendente documentário. O documentário Alphaville: Do lado de dentro do muro é uma representação audiovisual quase crua da distopia da classe média e/ou dos milionários brasileiros. Uma classe sub-humanoide que foge dos problemas sociais, de seu papel de cidadão para continuarem perpetuando seu estilo de vida e mentalidade fascista.

A diretora Luiza Campos passou dois meses morando em Alphaville, um dos bairros mais nobres da região metropolitana de São Paulo. Alphaville está localizado entre Santana de Parnaíba e Barueri, para quem não é de São Paulo Capital explico; é longe. Uma região distante quase 40 minutos de carro do São Paulo. Em resumo é uma região afastada que foi criada propositadamente para ser uma região de exclusão do trabalhador. É para quem tem, vive unicamente de carro, sem acesso a equipamento cultural, equipamento de informação ou ambientes que saiam do padrão de exclusão social perpetuado pelo modelo de construção no formato condomínio. Uma ilhota para os narcisistas.

A classe média brasileira é tão burra que o termo Alphaville vem do filme de ficção científica com roteiro e direção de Jean-Luc Godard que retrata, ficcionalmente, uma cidade controlada por um computador supremo que aboliu os sentimentos dos humanos residentes. A ficção virou realidade.

E o Brasil ainda piora... Alphaville não é mais unicamente uma região de São Paulo. É um conceito excludente para o restante do país. Até mesmo na infernal provinciana prosaica cidade de Ribeirão Preto existe um bairro com o mesmo nome e mesmo propósito. De perpetuar o sistema de classe social brasileiro.

Documentário de Luiza Campos foi produzido em 2008, lançado em 2009 entrevistando os moradores com suas opiniões nada isentas e muito menos inteligentes. É um retrato da necessidade de uma revolução popular contra aqueles que roubam o tempo do trabalhador. Mais uma vez Jessé Souza tem razão.

Recomendo fortemente por dois motivos:
  • O primeiro para ouvir claramente as falas dos residentes do Condomínio. Mais de 10 anos se passaram desde que o documentário foi lançado, mas enquanto o sistema de classe social e financeiro permanecer o fascismo permanecerá no Brasil.
  • O segundo é de que os moradores não percebem que vivem em uma realidade distópica. Eles vivem em um filme de ficção científica na vida real e se acostumaram com o absurdo.